As ações do Ibovespa que mais se beneficiam de um cenário de inflação em baixa

Depois de um período de inflação bastante resiliente, os aumentos de preços dão sinais de arrefecimento. O IPCA de julho apresentou deflação (ainda que com os núcleos pressionados), assim como IPCA-15 de agosto. Na véspera, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que a queda nos preços de energia poderá levar a inflação a cair de 9% para 5% ou 4% ao ano.

Esta virada tem sido observada de perto por investidores e analistas de mercado, inclusive aumentando o debate sobre a rotação para as ações de valor (como de commodities) para as ações consideradas de crescimento (como varejistas e techs).

Pensando nisso, a equipe de análise da XP formada pela estrategista de Ações Jennie Li e os analistas quantitativos Julia Aquino e Thales Carmo fizeram um estudo quantitativo para identificar os ativos brasileiros mais sensíveis à inflação, medida pela variação mensal do IPCA.

Os analistas buscaram encontrar ações vencedoras nos dois lados — as que se beneficiam da alta na inflação e as que se beneficiam da queda de preços — analisando a relação entre retornos e o IPCA, e controlando possíveis distorções por exposição ao mercado.

No estudo, os analistas apontam que, em geral, empresas de consumo discricionário tendem a se beneficiar mais de uma inflação mais baixa, enquanto consumo básico e financeiro vão bem no cenário oposto.

Para chegar à lista dos nomes, a equipe analisou os retornos mensais nos últimos 10 anos (entre junho de 2012 e junho de 2022) das ações que fazem parte do Ibovespa, com exceção de alguns nomes que entraram na Bolsa brasileira posteriormente.

“Os 5 nomes finais são aqueles mais negativamente correlacionados com a variação mensal do IPCA nesse período, ou seja, ações que tendem a ter retornos positivos quando os preços caem. Quanto mais negativo esse Beta (como dois ativos se relacionam), mais forte o efeito da inflação sobre os papéis”

Entre os ativos da lista mais beneficiados com a queda da inflação, estão principalmente ações de varejo e consumo, caso de Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3), Petz (PETZ3), Via (VIIA3) e Natura & Co (NTCO3).

Confira as ações que mais se beneficiam com a inflação em baixa, segundo o estudo da XP:

Os analistas de varejo e consumo da XP destacam que as histórias de crescimento são as que mais sofrem quando a inflação sobe, e portanto, tendem a estar na categoria que desempenham bem quando os preços caem.

Eles destacam que, em um ambiente de inflação em alta, empresas mais discricionárias (por exemplo, cosméticos) e/ou categorias de ticket mais altas (por exemplo, bens duráveis) tendem a sofrer pois (i) reduz o poder de compra dos consumidores, levando-os a despriorizar categorias mais discricionárias; (ii) geralmente está associado a taxas de juros crescentes, que por sua vez aumentam os custos de financiamento; e (iii) nomes relacionados a crescimento e/ou tecnologia (por exemplo, PETZ3 e AMER3, MGLU3, VIIA3) sofrem mais com o aumento das taxas de juros devido ao seu perfil de duração mais longo, isto é, são mais sensíveis à mudanças de taxas de juros.

“Portanto, em um cenário em que o oposto ocorre – inflação em queda e, consequentemente, juros também – essa categoria de empresas de varejo tendem a mostrar os maiores sinais de recuperação”, apontam.

Ações que se beneficiam com a alta da inflação

Já sobre os cinco nomes finais com maior correlação positiva com a variação mensal do IPCA, os analistas destacam que pertencem a setores que cumprem pelo menos um dos três critérios: i) conseguem repassar a alta de preços; ii) podem se beneficiar de um consequente ciclo de alta de juros, como os bancos e iii) têm expansão de margem com a subida de preços, por terem contratos indexados à inflação, como os shoppings.

As ações listadas com maior beta em relação à inflação são as seguintes: Assaí (ASAI3), Iguatemi (IGTI11), Carrefour Brasil (CRFB3), Santander Brasil (SANB11) e Multiplan (MULT3).

Confira as ações que mais se beneficiam com a inflação em alta, segundo o estudo da XP:

Sobre as empresas que comercializam alimentos, caso de Assaí e Carrefour, os analistas apontam que elas podem servir de proteção em meio a um ambiente inflacionário. Embora elas geralmente estejam sujeitas à renda familiar disponível e aos índices de confiança dos consumidores, o varejo de alimentos tende a ser uma alternativa mais defensiva dentro desse espaço. Alimentação é uma das categorias, senão a mais, necessária para a sobrevivência humana e, portanto, a última a ser reduzida. Além disso, muitas vezes a inflação é repassada integralmente aos preços por todas as empresas do segmento, pois já operam com margens apertadas e sua demanda tem baixa elasticidade aos preços.

“Além disso, o formato Atacarejo é ainda mais seguro entre os segmentos alimentícios, pois oferece o melhor custo/benefício e, por isso, costuma ganhar participação à medida que o consumidor busca alternativas mais em conta”, destacam os analistas. O  Assaí é o único player de Atacarejo na Bolsa puro, enquanto o Carrefour tem alta exposição (cerca de 70% do Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ao formato por meio de sua bandeira, Atacadão.

Já no caso do Santander, a combinação da exposição líquida positiva dos grandes bancos brasileiros aos juros e as suas resilientes e rentáveis performances financeiras frequentemente levam os investidores a ver suas ações como um porto seguro durante períodos inflacionários, avaliam os analistas. “Adicionalmente, o Santander tem a menor liquidez de negociação entre os bancos incumbentes, o que pode amplificar a volatilidade no preço de suas ações”, aponta a XP.

Por fim, sobre shoppings, os analistas destacam que a alta da inflação impacta positivamente os aluguéis da Multiplan e Iguatemi, uma vez que a receita de aluguel, que representa entre 70% a 80% da receita total, está atrelada ao IGP-DI e IGP-M. Isso leva os investidores a vê-los como um hedge (proteção) potencial durante os períodos de alta inflação. “Além disso, a inflação também beneficia os proprietários de shoppings porque os custos de reposição aumentam, o que deve beneficiar o valuation do portfólio”, avaliam.

Contudo, cabe apontar, shoppings também são um case de investimento em momentos de arrefecimento da inflação e, por consequência, queda posterior da Selic, com JPMorgan tendo elevado a recomendação para Iguatemi e brMalls (BRML3) de olho no cenário de biaxa de juros. Os analistas destacam que juros mais baixos beneficiariam o setor pelo reajuste múltiplo e maior fluxo de caixa medida pelo FFO (Funds From Operations).

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