- setembro 12, 2023
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- Category: Notícias
Saudada como heroína pelos membros da CPMI do 8 de Janeiro, a cabo da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Marcela da Silva Morais Pinno, que atuou na repressão aos atos golpistas, classificou os agressores como vândalos e afirmou que eles estavam organizados, “dispostos a tudo”. Durante o depoimento prestado nesta terça-feira (12), ela disse que se o efetivo do Batalhão de Choque, com cerca de 300 policiais e que estava de sobreaviso naquela data, tivesse se empenhado o ataque teria sido evitado.
“Se o efetivo do BP Choque tivesse se empenhado teríamos evitado”, disse Marcela Pinno, em resposta ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ele quis saber da policial se, naquele dia, houvesse reforço policial os manifestantes teriam sido dispersados. De acordo com Marcela, dois batalhões, com 36 policiais, estavam de plantão no momento dos ataques.
A policial, soldado do pelotão Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) Alfa, foi promovida a cabo após ser reconhecida por seu ato de bravura. Ela chegou a ser agredida com barras de ferro, foi arrastada pelo escudo, levou socos, pedradas e chutes. Imagens do capacete balístico usado pela policial e amassado por uma barra de ferro foram exibidas durante o depoimento.
Pinno ressaltou que na linha de frente do ato não conseguiu identificar a presença de crianças e idosos, apenas de vândalos bem equipados com itens de proteção, como máscaras, luvas, paus e grades.
“No dia 8, o que nos chamou muita atenção, de fato, foi a violência que foi imposta contra os policiais. Era claro, era nítido a intenção principalmente em relação a nós, a tropa que estava ali diante deles, que era a linha de frente deles no momento em que eles estavam dispostos realmente a tudo. Inclusive de atentar contra a nossa vida, como foi feito”, disse Pinno ao detalhar que foi empurrada da rampa do Congresso Nacional, numa altura de cerca de três metros e que teve sua arma quase roubada pelos vândalos.
Enquanto que para a base governista o depoimento da policial contradiz a narrativa oposicionista de que a manifestação teria sido pacífica, a oposição reforçou a acusação de que houve omissão por parte da Força Nacional de Segurança.
“Aqui cai por terra a tese de que lá tinha idosos, crianças que num domingo saíram das suas casas, das suas cidades, para tentar, de algum modo, se manifestar pacificamente. O que a gente percebe pelo relato da cabo Marcela, que lá estava enfrentando esses vândalos, esses terroristas, é que de fato foi uma ação orquestrada contra a nossa democracia, contra o patrimônio público e que devem responder com todo o rigor que a lei prevê”, acusou o deputado Duarte Junior (PSB-MA).
Grupos treinados
A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), chegou a questionar a depoente se, para ela, os manifestantes demonstravam nesse enfrentamento algum tipo de conhecimento militar. Ela citou que no relatório de inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), encaminhados à CPMI, mensagens interceptadas indicavam que havia um chamamento de manifestantes com entendimentos militares além de Colecionadores, Atiradores Desportivo e Caçadores (CACs).
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“Ou seja, era um perfil de manifestantes como você jamais viu em outro momento com técnicas claras. Você percebia isso. Percebia que eles tinham uma técnica militar para avanço, para chegar em relação a vocês?”, questionou Eliziane.
No entanto, a policial disse que não poderia fazer essa afirmação, mas que era perceptível que os invasores estavam organizados.
“Havia em torno de quatro a cinco manifestantes que estavam à frente da manifestação que eles possuíam sim, luvas para ter acesso a nossos materiais, foram lançadas granadas a altas temperaturas, que se forem lançadas em mãos livres, vão [provocar] queimaduras seríssimas. Eles se utilizavam de máscaras, de toalhas, de lenços no rosto. Sim, dessa forma eles estavam organizados, sim”, contou.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou a decisão do comando de Segurança Pública do Distrito Federal em não ter deixado o Batalhão da Tropa de Choque em prontidão, enquanto todos os comunicados indicavam o teor da manifestação. O reforço, segundo relatórios apresentados pela deputada, só chegou na Esplanada após às 16h, quando os Palácios já estavam tomados.
“Só às 16h50, 1h50 depois de todas as invasões, esse segundo pelotão chega. Ou seja, nós tínhamos um Batalhão de Choque de 20, diante de 4 mil, de uma agressividade que o próprio relato, aqui diz: o grupo teria se deparado com manifestantes portando gândolas militares, máscaras de gás, mochilas e bastões, além de coquetéis molotov, pedras, paus, fogos de artifício, e estilingue”, frisou.
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Dois grupos
O senador Marcos Rogério (PL-RO) concordou com a afirmação de que havia vândalos na linha de frente da manifestação. No entanto, ele questionou onde estão essas pessoas e pediu que a CPMI os convoque para depor.
“Nas imagens que eu vejo das pessoas saindo da prisão não tem essa característica que ela mencionou aqui. E eu repito, não estou dizendo que eles não existiram, eu quero saber aonde estão. Quem são? A mando de quem estavam lá? Porque está muito claro que existiam ali dois grupos. Um grupo extremamente violento e outro grupo embalado na multidão, acreditando em alguma coisa e foram lá, no estouro da boiada. E esses foram presos”, disse.
Força Nacional
Para os parlamentares da oposição, apesar do comando da Polícia Militar ter errado no plano de execução, o risco de vida assumido pela bravura da policial e dos companheiros de tropa que estiveram no enfrentamento foi ampliado em razão, também, da omissão da Força Nacional.
Os senadores Esperidião Amin (PP-SC), Jorge Seif (PL-SC), Marcos Rogério, Eduardo Girão (Novo-CE) e Izalci Lucas (PSDB-DF) salientaram que desde o dia 5 de janeiro foi acionado, no Distrito Federal, o Plano Escudo. O planejamento tático que, teoricamente, iria garantir a segurança da Esplanada inclusive com a autorização para que a Força Nacional de Segurança também atuasse. Eles consideram injusto que somente a Polícia Militar do Distrito Federal seja apontada como responsável pelo avanço dos ataques.
“Alguém tem dúvida de que o governo federal poderia ter evitado isso? Nenhuma. E tem comprovação aí, a Força Nacional estava lá no estacionamento do Ministério da Justiça e não foi acionada”, ressaltou Izalci, ao fazer referência ao batalhão da Força Nacional que estava posicionado no estacionamento do ministério.
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Os senadores chegaram a questionar se Marcela Pinno teria identificado integrantes desse batalhão da Força Nacional em atuação durante as invasões. Segundo a policial, eles só teriam sido vistos já no final da contenção.
“Nós já estávamos na Praça dos Três Poderes quando alguns homens da Força Nacional se incorporaram a nossa linha de choque, ao término mesmo”, reforçou.
Financiadores e incitadores
Em outra frente, alguns parlamentares defenderam que a CPMI intensifique as investigações em relação aos possíveis financiadores e incitadores do ato golpista. Eles citaram relatórios produzidos pelo próprio Facebook e de processos no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) que constatam, segundo eles, que grupos organizados da ex-presidência da República estimularam e financiaram discursos de ódio com o objetivo de fragilizar as instituições democráticas.
Para eles, essa “rede de desinformação” foi a grande responsável por colocar em risco o estado democrático de direito.
“Eu vou repetir isso: ex-assessores, assessores atualmente ligados à família Bolsonaro, indicados como membros integrantes do “gabinete do ódio”, utilizando servidores do Palácio do Planalto, da Câmara e do Senado para estimular, de forma intencional e generalizada, desinformação. Sabe qual é o resultado disso lá na ponta? Pessoas dispostas a tudo. Elas receberam informação em algum lugar, elas foram estimuladas em algum lugar, o seu afeto de agressividade e ódio foi mobilizado em algum lugar”, denunciou o deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).
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O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também defendeu essa linha de investigação.
“O que nós vimos no dia 8 de Janeiro nada mais foi do que uma tentativa de golpe que se frustrou, que vem sendo construída com a participação direta do ex-presidente, dos seus aliados políticos e dos seus financiadores através de fakenews, através da contestação das instituições democráticas”, disse.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) contestou a acusação da base governista. Ele alegou que apesar de afirmarem que houve propagação de fakenews por parte de assessores ligados a bolsonaristas, não foram, segundo ele, apresentados esses conteúdos.
“Qual é a fakenews que está sendo disseminada? Não, fala: “propagadores de fake news”, porque, para eles, fakenews é falar que o Lula roubou, que o governo Lula roubou a Petrobras”, revidou.
Imprensa
Ainda no início da reunião, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), informou aos parlamentares que o ministro do STF, Luiz Fux, reconsiderou a decisão sobre anular o ato regulamentando o credenciamento de profissionais de imprensa para acompanhar as reuniões da comissão. O ato determina que a concessão de credenciais será atribuição do presidente, ou de alguém que ele indicar para isso.
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A norma foi uma reação ao incidente ocorrido no final de agosto, quando um fotógrafo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fotografou a tela do celular de um parlamentar e divulgou trecho de conversa privada. O fotógrafo não poderá mais cobrir as reuniões da CPMI do 8 de Janeiro. A vedação não se estende para o veículo.
De acordo com Maia, “as diretrizes todas que estão postas no ato estão de fato válidas, que a ninguém aqui é dado invadir a privacidade alheia e que qualquer jornalista que esteja dentro deste ambiente da CPMI tem que se submeter ao regramento estabelecido por esta Presidência.”
“Quero dizer que o jornalista, dentro dessas condições de respeitar a privacidade alheia, de não devassar a intimidade dos outros, é muito bem-vindo de volta para que possa realizar o seu trabalho, o seu trabalho real, qual seja o trabalho de cobrir os acontecimentos que ocorrem no âmbito desta CPMI e não na vida alheia de cada um”, disse.
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