- agosto 29, 2022
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O primeiro debate para as eleições presidenciais colocou frente a frente, na noite deste domingo (28), os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto para a disputa pelo Palácio do Planalto a 35 dias do primeiro turno.
Assuntos como políticas públicas para as mulheres, combate à corrupção, economia e educação estiveram no centro das falas dos presidenciáveis.
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que juntos concentram cerca de 80% das intenções de voto nas pesquisas, protagonizaram embates e foram os principais alvos dos adversários.
O esperado confronto da dupla ocorreu logo na primeira possibilidade de interação entre os candidatos. Por sorteio, Bolsonaro foi o primeiro selecionado a perguntar e escolheu Lula para debater sobre casos de corrupção envolvendo a Petrobras.
O atual presidente disse que a estatal se endividou em R$ 900 bilhões em consequência de malfeitos da gestão petista. “O povo nordestino sofreu por falta d’água por causa de corrupção do seu governo”, disse. “Lula, você quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras?”, questionou.
“Era preciso ser ele a me perguntar e sabia que essa pergunta viria”, afirmou Lula, que chamou os números apresentados pelo adversário de “mentirosos”. Em sua resposta, o petista aproveitou o mesmo roteiro usado na sabatina ao Jornal Nacional, ao lembrar de medidas de fiscalização e controle implementadas durante sua gestão.
“Não teve nenhum presidente que fez mais investigação para que se apurasse corrupção do que fizemos. E é importante deixar claro que nós fizemos o Portal da Transparência, a fiscalização da CGU, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, a Lei contra o Crime Organizado, a Lei contra Lavagem de Dinheiro, colocamos a AGU no combate à corrupção, fizemos o Coaf funcionar em [investigações sobre] movimentações bancárias atípicas”, respondeu.
Na réplica, Bolsonaro acusou Lula de ter tido o “governo mais corrupto da história do Brasil” em uma gestão que classificou como “cleptocracia − um governo feito à base de roubo”. Lula, na tréplica, disse que a Petrobras ganhou seu tamanho em sua gestão, e na sequência conduziu seu discurso para uma comparação entre conquistas econômicas dos dois governos.
“O presidente precisava saber meu governo é marcado pela maior política de inclusão social, pela maior geração de emprego, pelo maior aumento de salário mínimo, pelo maior investimento na agricultura familiar, pelo maior investimento na criação da Lei Geral da Pequena Empresa, pela criação do Simples”, declarou.
A corrupção foi o principal tema usado por adversários para atingir a campanha de Lula, mencionada inclusive em momentos em que o petista não fazia parte das interações. Este foi o caso de Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB e Soraya Thronicke (União Brasil).
Nas oportunidades que teve, Lula manteve o discurso de que os casos foram descobertos graças à autonomia garantida aos órgãos de fiscalização e controle. O petista também atacou Bolsonaro por impor sigilo de 100 anos a informações relacionadas à sua gestão, pelo Orçamento Secreto, e buscou associar a gestão do adversário a casos de corrupção.
Em interação com a candidata Simone Tebet, que acabou protagonista na CPI da Covid do Senado Federal, questionou se foram descobertos escândalos envolvendo a atual gestão. “Eu queria que a senhora dissesse: houve ou não corrupção no processo de tratamento da Covid?”.
“Houve corrupção. Tentativa de comprar vacinas superfaturadas. Os documentos estão aí. Covaxin é o contrato mais escabroso que eu vi. Tentaram pagar antecipadamente US$ 45 milhões para serem pagos em paraíso fiscal para uma vacina que não tinha comprovação científica, para poder trazer para cá sem nenhum critério”, afirmou a senadora.
“Mas a corrupção não começou neste governo. A corrupção é fruto de governos passados, e a corrupção mata. Ela tira remédio do posto, tira médico da cirurgia, tira merenda do posto de saúde, tira o dinheiro que está faltando para fazermos os investimentos necessários para gerar emprego e renda à população brasileira. Este governo tem esquema de corrupção, como lamentavelmente teve o governo de vossa excelência”, emendou Tebet referindo-se a Lula.
Bolsonaro foi incisivo em direito de resposta às acusações de corrupção: “Está de brincadeira a nobre senadora. Tentou corromper? Cadê a corrupção? Cadê o contrato assinado? Cadê a nota? Não tem nada. Só fake news e mentira a meu respeito”.
A forma como Bolsonaro trata mulheres ganhou novamente posição central no debate após ele rebater a jornalista Vera Magalhães, que, em pergunta, responsabilizou o mandatário por difundir desinformação sobre vacinas.
“Vera, eu não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse.
Na sequência, Bolsonaro dirigiu-se a Tebet a quem acusou de ter sido conivente com a corrupção na CPI da Pandemia, por supostamente não apoiar a investigação de denúncias de irregularidades envolvendo compras feitas pelo Consórcio do Nordeste.
“A senhora é uma vergonha no Senado Federal. E não estou atacando mulheres, não. Não venham com a historinha de se vitimizarem”, afirmou.
O tom foi repudiado por quase todos os candidatos presentes no debate e avaliado por analistas políticos como um ponto com potencial efeito negativo à campanha de Bolsonaro, que luta para conquistar maior apoio entre o eleitorado feminino.
“Eu sou muito tranquila, vim na paz, bandeira branca. Só que, quando vejo o que aconteceu agora com a Vera [Magalhães], eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava, sim. Lá no meu estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento, e, acima de tudo, disseminar ódio entre os brasileiros e nos dividir”, afirmou Soraya Thronicke.
De acordo com o último levantamento feito pelo instituto Datafolha (BR-09404/2022), entre 16 e 18 de agosto, Bolsonaro conta com 35% das intenções de voto entre eleitores do sexo masculino. Já entre o eleitorado feminino, o apoio cai para 29%.
“Eu quero dizer ao presidente, e não é para o candidato, que fabrica fake news e fala inverdades: eu não tenho medo de você e nem de seus ministros. Recebi violência política na CPI, fui chamada de descontrolada. Um outro de dentro me ameaçando porque queria me impedir de falar e participar da CPI da vida, e, pior que isso, um ministro seu tentou me intimidar entrando no Supremo Tribunal Federal, porque eu denunciei o esquema de corrupção da vacina que vossa excelência não quis comprar”, disse Simone Tebet.
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