Construtoras projetam crescimento forte de lançamentos e vendas de residenciais no 2º semestre de 2022, após recuo no 2º tri

No primeiro semestre, com a Selic em alta, custos da construção subindo e problemas enfrentados pelo programa Casa Verde e Amarela (CVA), o setor de construção via um cenário nebuloso pela frente. Entre abril e junho, os lançamentos de casas e apartamentos no País caíram 15,4%, para 63.878 unidades, enquanto as vendas recuaram 5,5%, indo a 72.861 unidades.

O clima neste segundo semestre, no entanto, mudou totalmente. A Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), por exemplo, agora prevê que os lançamentos e as vendas de imóveis residenciais neste ano devem ficar próximos dos registrados em 2021, quando o setor teve um recorde de negócios.

Uma das principais causas para a volta do otimismo foram as mudanças no CVA – como o aumento dos prazos de financiamento e dos subsídios -, que possibilitaram a retomada das contratações. Em julho, elas subiram 20% em relação ao mesmo mês de 2021, e em agosto seguem no mesmo ritmo, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins.

Para o presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, o mercado imobiliário tende a crescer ao longo dos próximos dois anos. Segundo ele, os custos dos materiais também já estão mais comportados.

Outro fator favorável é o nível positivo de criação de empregos no País. Além disso, diz, há a expectativa de corte da Selic a partir da metade do ano que vem, abrindo espaço para redução das taxas cobradas nos financiamentos habitacionais.

Para Martins, da CBIC, o efeito que o aumento da taxa de juros poderia ter sobre o custo do crédito imobiliário já está dado, e os dados demonstram apetite ainda aquecido por parte do consumidor.

Dois dígitos pela 1ª vez desde 2017

Mesmo com a demanda aquecida por financiamentos imobiliários, os bancos têm olhado com cautela o ambiente da economia brasileira e não descartam a possibilidade de elevar as taxas dos empréstimos para a faixa dos dois dígitos – algo que não acontece desde o fim de 2017, de acordo com dados do Banco Central. A taxa atual já belisca essa marca, com 9,8% ao ano na média, enquanto 12 meses atrás era 7,5%.

As incertezas sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) depois das eleições, a inflação elevada e a possível extensão do ciclo de alta dos juros básicos (Selic) são consideradas pelas instituições financeiras como razões para a cautela.

O diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Romero de Albuquerque, deixou a porta aberta para que os juros da casa própria superem a marca dos 10%. “Vai virar dois dígitos? Pode até acontecer”, afirmou, ao responder à pergunta sobre o tema em debate organizado pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) na quinta-feira.

Ele ponderou que o setor já conviveu com juros de dois dígitos e, nem por isso, os lançamentos, as vendas e os financiamentos deixaram de acontecer. “Oxalá não veremos a necessidade de ir a dois dígitos. Mas não será um grande problema se isso acontecer”, disse.

O presidente da Abecip, José Rocha Neto, minimizou o risco de que as taxas passem por disparadas, mas concordou que a marca simbólica de 10% pode ser ultrapassada. “Pode ser que um ou outro banco passe dos dois dígitos, mas vai chegar a 10% ou 10,5%, nada muito mais que isso”, ponderou, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Ele acrescentou que uma alta pontual não será suficiente para derrubar o setor. “Se cabe no bolso do consumidor e a mensalidade compensa na comparação com o aluguel, o mercado vai continuar funcionando”.

Em sua palestra, Rocha Neto destacou que este será o segundo melhor ano da história para o crédito imobiliário, passando, pela segunda vez, da marca de 1 milhão de unidades financiadas. Levantamento da associação mostra que crédito se acomoda em um patamar menor do que o de 2021, recorde, mas ainda assim aquecido.

Em vigília

O diretor de crédito imobiliário e consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira da Silva, disse ao Estadão/Broadcast que não tem no radar em termos de perspectivas de mudanças na sua taxa “nem para cima, nem para baixo no curtíssimo prazo”. Segundo ele, o momento é de atenção ao mercado, monitorando a disponibilidade de funding (recursos da poupança para abastecer os financiamentos), curva futura de juros, concorrência, entre outros fatores.

O diretor de crédito imobiliário do Santander Brasil, Sandro Gamba, foi na mesma linha e disse que a posição do banco é de seguir monitorando o comportamento do mercado, sem tendência de alta ou baixa definida. “As taxas de juros ainda estão muito voláteis”, afirmou.

O diretor executivo de Habitação da Caixa Econômica Federal, Rodrigo Wermelinger, em conversa com a reportagem, afirmou que não há discussões sobre uma possível redução nas taxas de juros dos empréstimos mesmo diante da premissa de fim da alta da Selic. O carro-chefe do banco estatal é o crédito a 8,85% ao ano mais TR, portanto, abaixo da concorrência.



Clique aqui e acesse a fonte da matéria